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Volubilidade

Volubilidade

Por Thoth, 3º Patriarca Expectante (1915-2009)

Naquela tarde caia um tremendo temporal. O aguaceiro batia no alumínio da cobertura do barracão fazendo um barulho ensurdecedor. O céu com os nimbos ameaçadores estava cor de chumbo, o que dava um certo quê de terrífico, aumentado ainda mais pelos contínuos relâmpagos ziguezagueantes que atingiam múltiplas direções, proporcionando trovões que repercutiam e faziam tremer o solo.

Paradoxalmente, toda essa balbúrdia estrondosa da Natureza me levava a um estado de absoluta calma, condizente com uma conhecida lei: “Onde há uma força maior, cessa a menor”. O caso era bem apropriado para mim e encaixava muito bem naquele momento, proveniente ao estado de espírito em que me encontrava!

Engraçado! Como o ser humano tem a flexibilidade de cambiar rapidamente seus sentimentos, seus pensamentos, suas atitudes. Aquilo que antes era combatido, hoje é aceito. Aquilo de que não se gostava, hoje passou a ser apreciado. Não há, portanto, uma permanência duradoura, uma constância programada indefinidamente! 

Antes de assistir à tormenta que tanto fustigava o ao redor, um turbilhão de pensamentos confusos, escuros, que chegavam às raias do negativismo, fazia parte do estado interno em que me encontrava. De forma que para mim foi benfazejo me defrontar com a Natureza em fúria.

Tendo encontrado paz na tormenta (isso parece uma incoerência), pude iniciar um solilóquio decorrente da experiência que estava vivenciando e me veio à mente a palavra volubilidade.

Uma das características que marcam fortemente a natureza humana é ser volúvel, inconstante. Isso é algo que está assiduamente no dia a dia, pois que, de momento a momento, estamos mudando em nós alguma coisa. Isto quando se refere ao plano material, especialmente no que se aplica ao âmbito do progresso da própria vida em todas as suas facetas. Excelente! Não deixa de ser o ponto de partida evolutivo do progresso material ostensivo. E, por incrível que pareça, a volubilidade dosada, medida, bem aplicada, não deixa de ser um fator no progresso da humanidade. Por quê? Porque ser volúvel neste caso leva o ser humano a estar constantemente inventando alguma coisa para progredir, aumentar o seu patrimônio, o seu “status”, seu bem-estar pessoal e de sua família.

Observe bem: eu disse volubilidade dosada, medida e bem aplicada. Logo, espero, ninguém pretenda se tornar volúvel na extensão lídima da palavra, porque isto o conduziria o indivíduo a ter sérios problemas na organização dos seus negócios e da sua própria vida. Se você for volúvel – inconstante até certo ponto, você estará sempre desejando mais e mais as coisas e isto o levaria de alguma forma ao trabalho ininterrupto de fazer coisas novas, diferentes, com o objetivo de adquirir mais bens materiais. Mas, em suma, é isso que leva ao progresso generalizado.

Ainda em se tratando do plano material – na vida física – em contrapartida, não devemos ser volúveis no AMOR, porque nesse caso a conjunção familiar na maioria das vezes teria suas bases estremecidas e acabaria por se ver e viver uma desestruturação completa.

Vamos deixar, aqui e agora, o lado visível da questão, com toda a sua estrutura material organizada, passando a cuidar de algo mais profundo, permanente – o campo espiritual.

Quando alguém cogita de lançar mão dos estudos, práticas, pertencer a alguma corrente religiosa com o objetivo sério de atingir sua evolução espiritual, deve ter uma aceitação aberta e irrestrita para com a filosofia que escolheu.

Aqui está, pois, o ponto de partida para o início de uma elucidação atinente à VOLUBILIDADE no plano filosófico – espiritual.

Como já disse, o ser humano tem uma propensão acentuada para a inconstância, especialmente os chamados “buscadores”. Nesses, então, a característica mais marcante é a instabilidade – a volubilidade desencadeada pelo desejo de busca. Tudo bem, é um direito que os assiste. Porém, eles se esquecem de que para manter a própria busca se deve ter a constância, se dedicar a fundo e, a em hora que encontrar o motivo de sua busca, o dever é se integrar e entregar-se inteiramente ao ideal escolhido, passando a se dedicar permanentemente aquilo que aceitou como seu ideal, seu objetivo para a evolução espiritual. Já aqui a busca é direcionada, o caminho já aflorou. Mas, mesmo assim, a volubilidade continua, a ânsia de saber cada vez mais incita o ser a querer cada vez mais novidades. É preciso não esquecer que, quanto mais se sabe, mais responsabilidades se assume. Às vezes, é bom parar um pouco e se dedicar a praticar aquilo que aprendeu. Se assim não proceder, é o mesmo que comer, comer continuamente e não parar para dar tempo de fazer a digestão, resultando com isto um distúrbio gástrico. E, do outro modo, pode ter distúrbios psíquicos...

É óbvio que em todos os momentos, em todas as situações, é preciso saber que no caminho do meio está o equilíbrio. Sendo assim, há grande necessidade de se evitar cair no fanatismo de qualquer espécie, porque o fanatismo é um par de ANTOLHOS que elimina a possibilidade de se ver horizontes mais amplos...

Exemplificando com a Natureza um tipo de volubilidade: a mariposa noturna voa, voa em direção da primeira luz que vê. Porém, depois de alcançá-la, enxerga outra luz e voa para ela; mais outra, mais voos, sempre colhendo o deslumbramento em todas que atingiu. Pergunto: Ela realizou alguma coisa? Ou simplesmente houve uma satisfação momentânea? Este mundo está cheio de “mariposas” ESPIRITUALISTAS que falam, falam, pregam e não fazem FORÇA para exemplificar! E o porquê disso está na comodidade, negligência, preguiça pessoal. É mais fácil viver no esquema: “Faça o que digo, mas não faça o que faço”. No entanto, o duro é fazer como digo: Faça o que digo e examine o que faço!...

O ANTÍDOTO para eliminar a VOLUBILIDADE é cultivar ferrenhamente a perseverança. E como é difícil... Eu bem o sei.

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