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Vivissecção ou veneração dirigida aos Mestres?

Vivissecção ou veneração dirigida aos Mestres?

Por Dr. Jehel, S.I.
(Artigo de autoria do 2º Patriarca Expectante, Sri Sevanãnda Swami, que na época assinava “Jehel”. Extraído da Revista La Iniciación, nº 1, maio de 1942, publicação da Ordem Martinista da América do Sul, Montevidéu, Uruguai.)

O título deste artigo pode parecer, e é, até certo ponto, algo brutal. Porém, mais lamentável é que mais brutal ainda é a triste realidade a que faz alusão. Dia a dia, se nos dispomos por alguns momentos a prestar atenção, verificamos que muitas pessoas das escolas mais diversas pretendem ter compreendido as obras de certos Mestres, ou estar em contato com eles, ou ser seus discípulos, em forma direta ou por seguirem a determinada escola iniciática que dirigem. 

Na realidade, se observa que uma parte dessas mesmas pessoas disseca as obras dos referidos Mestres com um espírito de crítica aguda e muitas vezes maligna, ou, pretensiosamente, apontam erros que as obras ou as atitudes dos ditos Mestres lhes parece conter. 

Em primeiro lugar, desde o ponto de vista simplesmente lógico, tal atitude não é conseqüente, já que o Mestre, se o é, em qualquer altura que se lhe queira considerar, está forçosamente APTO, ou seja, “PREPARADO” para sua missão e, portanto, “dentro dela” é perfeito. Em outras palavras, representa uma perfeição RELATIVA, uma perfeição característica de certo estado de evolução de certa função, e todos aqueles que precisam ainda DAQUELE MESTRE são realmente inferiores a Ele, se não em ESSÊNCIA, o que não é possível, pelo menos e certamente em CONSCIÊNCIA. 

Por conseguinte, suas críticas se dirigem a um “objeto”, filosoficamente falando, que não podem analisar realmente e, por isso mesmo, são vãs e levianas. 

Sob outros aspectos mais graves, isto é, nos aspectos MORAIS e VITAIS da questão (e sabemos que a Moral e a Vida são até certo ponto a mesma coisa, pertencem ao mesmo plano), como podem semelhantes criaturas pensar que lhes seja dado receber os ensinamentos dos ditos Mestres? Se se trata de Mestres Instrutores, encarnados e presentes em corpo físico, ao redor de nós, ou, coisa mais impossível ainda, merecer a Presença dos Veneráveis Mestres que se manifestam desde longe, ou do Invisível... Como podem crer que isto seja possível se ignoram a CONDIÇÃO ESSENCIAL, que é a de criar um LAÇO entre o Mestre e eles? E esse laço, o que o pode constituir?... Somente a Veneração, o Respeito, o Amor. Porém, um Amor tão real, tão vivo, que seja uma projeção de nossos próprios pensamentos e desejos mais elevados, dirigidos ao Instrutor ou ao Mestre. Que seja um respeito total para a Função que exerce em relação a nós. 

Se quisermos dividir o problema para torná-lo mais claro, teremos, de maneira muito genérica, duas séries de Seres que nos ajudam em nosso Caminho de Evolução: os menores, ou seja, os Instrutores, os homens que sabem mais ou são melhores que nós em muitos aspectos, o que não significa que sejam perfeitos, porém, com isto se quer dizer que tenham realizado algo daquilo que nós aspiramos realizar, que sabem algo daquilo que ainda ignoramos…

De que pode resultar, em tais Instrutores, o verdadeiro interesse pelo Discípulo? Somente pode nascer quando o Instrutor verifique que o discípulo tem a real preocupação do Saber pelo Servir, isto é, um interesse INTELECTUAL, uma ânsia ESPIRITUAL de Saber mais e melhor, para compreender realmente o Sentido da Vida e o Caminho que leva à Realização verdadeira. E o interesse Moral, ou seja, a pureza de intenções. 

No entanto, o Instrutor NÃO PODE CRER em tais reais intenções se verifica que o discípulo, que pretende ser idealista e altruísta, conserva e até “cultiva” fortemente o espírito de crítica malevolente, a falta de respeito pelas coisas elevadas ou por Aqueles que as transmitem e que para ele fazem sacrifícios que são evidentes para todo discípulo que queira observar com Amor ao Instrutor. 

Se considerarmos agora o caso, não mais dos Instrutores Menores, mas, sim, o dos VENERÁVEIS MESTRES, daqueles que À DISTANCIA “veem em nossa aura todos os atos e pensamentos que temos tido desde a última vez que nos olharam” – digamos assim para simplificar o problema -  é fácil dar-se conta de que, sim, podemos enganar-nos a nós mesmos... Mas Eles não podem enganar-se sobre o progresso que possamos ter realizado ou não, e sobre a pobre REALIDADE de nossas boas intenções. 

E, apesar da Bondade que sempre e necessariamente caracteriza a um Mestre, Eles não podem transgredir LEIS UNIVERSAIS e, portanto, não podem fazer que se “fixe” em nós MAIS VERDADE, MAIS BELEZA, MAIS ELEVAÇÃO, MAIS QUALIDADE do que a que nós mesmos buscamos e merecemos. Em outras palavras, mais do que nós mesmos nos CONDICIONAMOS para receber. 

Por isso, para caminhar firmemente no Caminho da Iniciação é preciso esse respeito, esse sentimento VENERATIVO pelos Ensinamentos, por aqueles que os explicam, comentam e transmitem em sua parte elemental (Instrutores), e mais ainda por AQUELES QUE OS VIVEM INTEGRALMENTE, que SÃO o próprio Ensinamento VIVO na Humanidade, os VENERÁVEIS MESTRES. 

Amor e Veneração aos Ideais e aos Mestres que os Representam são, pois, os Marcos do Caminho para aquele que segue a SENDA INICIÁTICA.

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