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Seu caminho

Seu caminho

Por Ramanuja, S. I. (discipulo Martinista de Sri Sevãnanda Swami, 2º Patriarca Expectante)

O estado evolutivo da humanidade, por avançado que a muitos pareça, é tal que o homem ainda não conseguiu romper as mais elementares amarras que o privam da liberdade de decidir por si mesmo sobre sua própria vida. Sem muito risco é possível afirmar que a grande maioria dos atos que o homem realiza obedece a razões alheias a sua própria consciência. O meio ambiente atua sobre nós e respondemos quase sempre por reação e muito raramente com inteligência, ou o que é ainda mais importante, com vontade colocada a serviço dessa inteligência. O cômodo, o fácil, o que não traz complicações são os recursos mais simples de que lançamos mão para deixarmo-nos envolver pela roda do tempo, e a ninguém parece importar que seja isso precisamente o que escraviza nossas mais caras aspirações, o que anula a essência mesma do que cada indivíduo tem consciência que deve ser. Somos capazes de dar nossa vida se alguém quiser nos dar o nome de escravos ao mesmo tempo em que vivemos escravizados sem preocupação.

Parece lógico que, em um mundo de aparências, sejam as aparências que governam as coisas; o único lamentável é que o mundo vai além, apesar das aparências, mas cedo ou tarde chega o governo dos que vivem de aparências. Os mesmos que vociferam contra os ditadores que nos pretendem privar da liberdade ainda não têm sido capazes de compreender que a verdadeira liberdade depende apenas em ínfimo grau de causas externas. Ninguém pode privar da liberdade a quem é internamente livre. Só é necessário apreciar algo mais do que a forma das coisas para entender a terrível escravidão a que nos submetem nossas próprias paixões. Não é acaso verdade que vivemos dominados, mais ainda por nosso egoísmo e nossa própria preguiça do que pela vontade de alguém? Quando se dará conta o homem de que sua felicidade não depende do muito que tenha, mas do muito que seja capaz de não ter? É tão falso o egoísmo que basta que nos faça conseguir alguma coisa para que com ela deixemos de nos importar.

Felizmente, para o homem, a consciência evolui apesar das paixões, quiçá mais exatamente com as mesmas paixões, e o que o homem logra em consciência é permanente: daí que o segredo da felicidade não consiste mais que em trabalhar de acordo com nossa consciência. Quem satisfaz uma paixão nada faz se não viver um momento, do qual ficarão apenas as consequências físicas e as reações de sua própria consciência que poderão ser, em relação à vida do homem, de permanente desaprovação. É verdade que para alcançar a felicidade não basta agir de acordo com a consciência; mas é também verdade que é motivo duradouro de infelicidade não o fazer. Se os seres humanos fossem capazes de sentir essas verdades, que cada um pode e deve extrair felicidade da experiência de sua própria vida, daríamos muito menos importância a todas essas coisas que não têm mais permanência do que a bela luz de uma estrela cadente no firmamento.

E se a isto somássemos o conhecimento e a garantia de que a vida não termina no além morte, e muitas outras garantias.... Se nos ocorresse que devem ser muito poderosas as razões que nos induziriam a pensar e trabalhar pelo que é verdadeiramente eterno. Mas, desgraçadamente, nos conformamos demasiado com o que acreditamos que chegamos a saber e esquecemos que o verdadeiro conhecimento não é aquele que nos permite teorizar, mas realizar; que não é suficiente compreender certas coisas, mas que é necessário senti-las. Vivemos como se essa vida de forma e fantasia fosse eterna, confundidos talvez com o sentimento de eternidade que já vem conosco.

Compreendemos que vamos morrer, mas não sentimos que é tão fácil para nós esquecer o problema da morte e vivemos como se não fôssemos morrer. É verdade que não morreremos para o Eterno, mas vamos morrer para esta vida. Se sentíssemos permanentemente essas realidades, muitas das fantasias deste mundo desmoronariam diante de nós como um castelo de cartas e a orientação de nossa existência tomaria rumos muito distintos. Quem trabalha conscientemente para o eterno carrega em si a segurança de saber ao menos que está em um caminho, um caminho pelo qual aprende que só é possível marchar com o coração puro e a mente ampla e livre de preconceitos. Quem vive para o momento apenas pode levar em sua alma uma fé que não tem mais estabilidade que as mutáveis formas que a sustentam.

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