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Os Cantares de Sevãnanda

Os Cantares de Sevãnanda

(Por ele próprio, 2º Patriarca da Igreja Expectante)
Extraído de La Iniciacion, nº 52, agosto de 1946

 

Vossa cidade dorme. Sentado e assentado no éter que anima vossas vidas, livre das amarras do corpo, livre dos laços pessoais, livre das inibições com que vos torturais dia após dia, livre dos temores com que limitais as vossas possibilidades, livre como o independente pensar, livre como o impessoal amar, viajo pela vossa cidade.

Penetro as paredes de vossas casas, penetro a penumbra de vossos quartos, penetro a relativa inconsciência de vossas mentes adormecidas, penetro o calado sentir de vossos corações.

E, na noite em que vossa cidade dorme, elevo meu cantar, junto a cada mente e a cada coração, cantar que quer ser serenata de amante, acalanto de mãe e conselho de pai.

Homem: Tu, que ontem tiveste a palavra que feriu o sensível sentir de tua companheira, a palavra que ainda turba o palpitar de seu sono! Eu te falo em meu cantar, me junto a teu sonhar e procuro sugerir-te o sorriso com o que alegrarás, desde o despertar, a alma de tua companheira. Sorriso no qual, muda, discreta, invisível, a vibração de meu cantar, animando tua própria bondade, fará florescer, em silente reconciliação, um dia feliz!

Mulher: Tu, que ontem quebraste o encanto de uma alegria de criança! Tu que permitiste que o amargor de um momento de teu sentir envenenasse alguns instantes de uma vida que deste! Eu te falo em meu cantar, me junto a teu sonhar e procuro sugerir, à tua sensibilidade de mãe, o gesto e a palavra que apagarão, da infantil alma essa marca dolorosa, que, se permanecesse, poderia amanhã ser complexa e ser dor, ser dor e ser fracasso!

Professora: Tu, que por falta de carinho, com palavras que só se dirigem ao compreender, não tens podido despertar nas crianças o amor pelas coisas que teu saber comenta! Eu te falo em meu cantar, me uno a teu sonhar e procuro sugerir-te o sorrido e o gesto, a palavra e o sentir que farão possível, ao menino e à menina, encontrar em ti o amor de sua mãe, a experiência de seu pai e o compreender das demais crianças, reunidos em algo para ele/ela, em algo que sintam que tu dás a eles exatamente como gostaria de receber.

Sábios: Vós que com mente grave reunis elementos de conhecimento do universo, vós que, mais do que pensais, sois meritórios e responsáveis pelo modo de viver da coletividade, porque vós determinais os esquemas formais de suas existências! Eu falo a vós em meu cantar, eu me junto a vosso sonhar e procuro a vós sugerir o desejo de falar somente o que aproxima os seres, de divulgar apenas aquilo que contribua para a felicidade da existência e a paz; trato de exaltar em vossos corações o valor de resistir à fama e às ameaças, para que vossa obra de ciência seja também obra de paz, e de arte, e de amor.

Sacerdotes: Vós, que frequentemente, com o lábio distraído ou indiferente, causais danos à alma expectante dos fiéis. Eu me uno a vosso sonhar, e meu cantar procura evocar, no melhor de vossa alma, aquilo que pode religá-la à alma de vossos altares, para que vosso coração tenha fé; vosso lábio, oração; vossa oração, amor!

Instrutores: Vós que dissertais com sabedoria sobre verdades eternas; vós que, em certo modo, viveis essas verdades parcialmente! Eu me junto a vosso sonhar e em meu cantar se eleva a gratidão de todos aqueles de cujos problemas vos apiedais, de todos aqueles que, mais que instruir, consolais; mais que dirigir, estimulais; mais que utilizar, tornais úteis; mais que sábios, fazeis sensíveis!

...E, sobre vossa cidade que dorme, já se aproxima a carícia do amanhecer. Meu cantar se cala. Meu ato cessa. O olhar para fora termina.

Pequenino, ínfimo átomo de vida, eu, com outros mil Sevãnandas, estamos no coração de um grande Ser que ora. Ele rende louvores à Suprema Divindade, e por isso, em outro momento qualquer do universal viver, algo de sua Bondade permitirá a mil e um Sevãnandas crer que cantam e que seu cantar é amor!...

OM

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