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O Poder do Silêncio

O Poder do Silêncio

(Instrução do Suddha Dharma Mandalam, proveniente do Ashram “Guru Subrahmanyananda”, Argentina.
Publicada em novembro de 1947, em La Iniciacion, nº 67, revista mensal produzida pelo Grupo Independente de Estudos Esotéricos, liderado pelo 2º Patriarca da Igreja Expectante, Sri Sevãnanda Swami.)

É seguramente por alguma razão poderosa e sábia que, nas práticas místicas individuais do Suddha Dharma Mandalam, vemos que somente ao chegar a um estágio já bastante adiantado se permite e se indica ao discípulo que, ao fim de cada prática, faça certas orações ou pedidos pelos doentes ou necessitados.

Podemos meditar sobre o fato e perguntar: por acaso não pode um principiante, ou ainda um profano, ter bons sentimentos, intenções e também rogar pelos enfermos, como é bastante comum na vida familiar?

“Nihil obstat”, como diriam os censores da Igreja Católica. Nada obsta! Realmente, nada se opõe a que assim seja, e nos casos em que as pessoas oram com real fé e boa-fé, com puro e sincero desejo, sua oração é sempre eficiente, mesmo quando o efeito se produza, às vezes, em modos que ninguém perceba, por não ser o específico efeito que se solicitava.

Porém, no caso do estudante de esoterismo, as coisas mudam um pouco, por várias razões que vamos tratar de expor resumidamente:

1º) Já sabem que, geralmente o estudante de esoterismo é alguém que, de uma ou outra forma, perdeu pelo menos em parte sua fé original, isto é, a fé cega e inquebrantável, descomplicada e espontânea da criança, aquela em que, com toda a simplicidade e realidade, orava conforme sua mãe ensinara, se é que teve a felicidade de uma infância com educação devocional no lar!

Portanto, é lógico, natural, saudável, que se procure, nas práticas iniciáticas, desenvolver primeiro, no discípulo, a base de uma experiência pessoal no psíquico e no místico, que há de devolver-lhe uma fé nova.

Entendamos, neste caso, por fé nova, uma nova modalidade de ser e proceder para o indivíduo. As características novas desta fé que ele readquire são as seguintes:

a) Vai em busca dessa fé pela razão e por sua própria decisão;
b) Vai até a obtenção do contato íntimo que há de dizer, a sua alma, e muitas vezes até a suas percepções sensoriais, que a vivência mística é uma realidade internamente tangível, e, portanto, efetiva e indiscutível;
c) Seus instrumentos, ou seja, os órgãos individuais da vida emocional, devocional, psíquica e mística tiveram, ao mesmo tempo, a oportunidade de um começo – ao menos – de desenvolvimento.

 

2º) Como resultado do exposto até aqui se compreenderá, facilmente, a sabedoria do período de muitas práticas, que antecede ao das que incluem os pedidos ou orações como síntese final de realização do ato místico da prática.

Efetivamente, os sábios Seres que organizaram esses métodos de reeducação da alma não ignoram que, durante todo o período preparatório, o estudante não somente luta com a falta de fé, de devoção real e sentida, mas também luta para treinar progressivamente seu corpo à imobilidade em certos momentos e as atitudes físicas espontâneas que ele mesmo costuma tomar para gestos do cerimonial individual; luta assim mesmo por educar sua mente a não distrair-se, passando do assunto sagrado a temas profanos e, além disso, resta resolver quase o mais difícil:  orar ou pedir por pessoas totalmente desconhecidas, em muitos casos, sem que isto seja feito como uma obrigação ou mero treinamento, mas que possa ser também de forma real, espontânea, vivida efetivamente.

3º) Em resumo, vemos que se trata nada menos que de transformar o ser que, quando criança, orava com simplicidade e pureza, perdidas depois no turbilhão da vida passional e profana, o ser que, depois, lutou com a dúvida intelectual e filosófica; o ser que, ainda mais tarde, foi em busca de uma verdade teórica provisória, porém lógica:

Em um ser que comece, pelo menos, a ter:

a) Uma quase segurança de que pode obter por si mesmo e dentro de si mesmo a realidade do feito místico;
b) Um cultivado, crescente e frequente desejo de entrar em sintonia coma vibrações de harmonia, bondade e altruísmo;
c) Uma convicção, sentida internamente, de que somente no SILÊNCIO de seu íntimo pode encontrar o clima propício para a efetividade do trabalho de sua alma, de seu psiquismo e de sua espiritualidade, cuja realidade individual começa a perceber.


Tais indivíduos estão, pois, no caminho da realização silenciosa, da conquista de um tremendo poder e da enorme responsabilidade que representa esquecer suas possibilidades aparentes (conhecimento intelectual, riqueza, títulos profissionais e acadêmicos, posição etc., todos transitórios e em parte efêmeros ou ilusórios) para ir pouco a pouco reconquistando a oportunidade de manejar sua reais e profundas possibilidades.

É, então, evidente, que o discípulo que se compenetra disto, mesmo quando não tenha logrado realizá-lo ainda com plenitude, ou, ao menos, com certa amplitude, deve ter um elevado interesse em cultivar tudo aquilo que signifique a educação do silêncio.

E bem: mesmo que não sejamos ainda seres dotados de grandes possibilidades, mesmo que saibamos (e como bem o sabemos cada um!...) quão pouquinho podemos fazer em nossos atos de serviço e de oração, nihil obstat!, realmente, nada se opõe a que possamos fazer, na vida diária, permanentes, ou ao menos frequentes, treinamentos de silêncio ativo e eficiente.

Perto de nós está uma pessoa cuja maneira de proceder não é a mais acertada para o momento ou o ambiente. Se lhe dizemos algo, se discutimos com ela, há noventa por cento de probabilidade de que isso resulte num choque, num distanciamento. Vamos empacar como mulas e nos agarraremos à teimosia, aquilo que o ser humano geralmente chama de “não dar o braço a torcer. E isso se compreende... porque dói (o braço, a vaidade ou a mente...). Seria o caso então de CALAR-SE! Mas não se calar em um silêncio desdenhoso, depreciativo, hostil ou indiferente. Calar-se em um silêncio repleto de um pensar sobre todos ou sobre muitos dos instantes que podemos dedicar e desejar profundamente que naquela pessoa possa ser modificado aquilo que realmente necessite ser, e NÃO especialmente como nós CREMOS que deva ser, se não como e quando deva sê-lo! Se, no silêncio, se atua assim com sinceridade, se está ajudando e muito!...

Porque há aqueles que perdem tempo, energia etc., em falatórios, intrigas, críticas, seja lá o que for que nada constrói, ou até destrói, ou pode desunir algo, os grupos, as famílias, os relacionamentos. Tampouco é provável que consigamos muito discutindo, argumentando, expondo mil razões. Se a mente dessas pessoas estivesse apta a compreender algo mais elevado que o próprio dono da cabeça, elas já teriam se dedicado a isto sem esperar indicações ou conselhos alheios. Voltamos, pois, à utilidade do silêncio ativo, do silêncio realmente altruísta e fraterno!

Muitas vezes, o praticante assíduo de tal silêncio deverá levar meses, quiçá anos ao lado de uma ou mais pessoas, sem poder, nem dever tocar jamais em certos assuntos, sem dúvida de suma importância, que compartilha com aquelas pessoas. Porque, cada vez que falar prematuramente verá o resultado negativo surgir na mesma hora! Mas, ao contrário, cada vez que saiba calar-se SEM ESQUECER, calar-se sem que seu silêncio se torne um estéril poço de indiferença; calar-se sem que em seu silêncio a sensação de incompreensão lhe forme um complexo de separatividade; então sempre verá, depois de tempo variável, os benéficos efeitos do silêncio ativo, do silêncio amigo, do silêncio afetivamente laborioso. Verá produzirem-se os efeitos harmonizadores com bases firmes e duradouras.

E, para concluir, não duvidemos que, se ao terminar certas práticas com uma oração ou pedidos por necessitados, desejamos e cremos que, nesse momento, se produz uma ação dupla: de que algo “de nós” é projetado e eventualmente utilizado pelos Mestres e Seres Superiores; e que, às vezes, podemos ser também CANAIS pelos quais algo da VIBRAÇÃO DELES possa ser transmitido com benéficos resultados, então, em lógica boa e sã, na vida cotidiana deve ser o mesmo. Queremos significar com isto que é mais provável que nossa ação silenciosa possa ter um respaldo e uma ajuda superior, algo que as nossas discussões e polêmicas não têm.

Se, com estas inevitáveis palavras (às vezes é preciso romper o Silêncio, até mesmo para poder a ele voltar com mais intensidade...) pudemos proporcionar a alguém a oportunidade de meditar e de praticar o poder do Silêncio, lhe rogamos que, nesse Silêncio, se una a toda a cadeia do Guru Subrahmanyananda para projetá-lo.

Paz a todo o Universo.

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