Por Sri Sevãnanda Swami, 2º Patriarca Expectante
(Extraído da revista “La Iniciación”, abril de 1944, Montevidéu, Uruguai)
Com o desenvolvimento da civilização, a liberdade individual está cada vez mais ampla, desde o plano físico até os mais sutis.
Fisicamente, o “habeas corpus”, a abolição da escravatura, o conceito cada vez mais democrático de moradia, circulação e reunião tem-se completado pelos descobrimentos da ciência, que têm ampliado de forma notável a facilidade de locomoção em rapidez, vulgarização e preço.
Atualmente, aumenta rapidamente o número de seres humanos que levam seus corpos aos lugares em que necessitam atuar, com facilidade e rapidez.
A esta maior liberdade de “movimento físico” somou-se a maior possibilidade de movimento intelectual e mental, pelas editoras, seja por meio dos livros e mais ainda pela imprensa diária, periódica e as revistas. Novo impulso as ideias têm ganho a partir do cinema, rádio e, em muitos países, a televisão.
NOTA DO TRADUTOR: Repare, CaroLei, que o Mestre nos brindou esta joia num tempo em que não se falava em satélite, turismo espacial, internet, WhatsApp etc.
Encurtaram-se as distâncias e, se se quer meditar, vê-se que o fator “tempo” vem sendo reduzido na locomoção física e está quase anulado pela instantaneidade da informação via rádio e seus derivados.
Se a humanidade soubesse aproveitar esta real amplitude de liberdade de contato, poderia fazer um progresso notório, pois, assim como antes “corríamos”, a pé ou a cavalo, até o parente ou amigo doente, ao receber, tardiamente, às vezes, a notícia, hoje podemos “voar” para perto dos que sofrem, de avião, com a mente ou com a rádio – física e mental.
Os males causados em qualquer parte do grande corpo coletivo da humanidade, seja por fenômenos naturais – terremotos, vulcões, inundações etc. – seja por fenômenos sociais – guerras, revoluções etc. – chegam ao OUVIDO e ao OLHO da quase totalidade dos seres com uma rapidez que cada dia mais tem “instantaneidade”, isto é, simultaneidade entre o acontecer e o informar.
OLHEMOS ISTO AGORA INICIATICAMENTE
Se fôssemos realmente livres, não somente por força das leis democráticas que nos regem, não apenas pela facilidade de locomoção e informação de que gozamos, mas sim pela liberdade interna, isto é, se pudermos chegar a sentirmo-nos não limitados por ódios, rancores, invejas, paixões e ambições... que obra maravilhosa poderíamos realizar!...
Mereceríamos, então, realmente esta liberdade que os meios técnicos nos têm outorgado, porque as mentes e os corações de todos os seres poderiam unir-se instantânea e sincronicamente com o acontecimento de flagelos que viessem a atingir certa parte da grande família humana e, assim como milhões de vezes no ano a oração e o desejo sincero de milhões de mães salvam milhões de crianças doentes em seus lares, assim também milhões de peitos humanos e de mentes fraternais poderiam e deveriam poder curar os males de que sofrem seres humanos de qualquer ponto do grande lar humano: a Terra.
No entanto, para poder ir a qualquer parte, para poder expressar qualquer pensamento, para poder realizar qualquer obra, é preciso ser livre.
E para realizar obras como as que eu comento, que são de natureza interna e íntima, é preciso ser interna e intimamente livre.
O que entende o Iniciado por Liberdade?
Entende que é aquela que ninguém nos pode dar, outorgar, ampliar nem tampouco diminuir, cercear ou tirar. A liberdade de compreender sem paixão e de sentir sem que seja de modo negativo.
A liberdade de amar infinitamente a todos os nossos semelhantes e de desligar-se de tudo que os outros dizem, escrevem ou sentem, tudo que tenda a formar separatividades, seja em nosso círculo familiar, profissional, ideal, nacional ou humano em geral.
Por acaso a rosa deixa de ser perfumada quando em suas proximidades o gato esvazia o ninho do pássaro?
Por acaso nos sentimos obrigados a roubar porque um vizinho ou um compatriota incidiram em furto?
Não, não é verdade? Pois tampouco estamos obrigados a adotar sentimentos ou atitudes de ninguém, parente, amigo, sócio ou qualquer outra posição relativa a nós que signifique uma limitação a nosso mais amplo sentido de amor universal, de carinho coletivo, de sentimento social, familiar ou individual.
E, se o perfume da rosa se exala continuamente, sem interrupções nem fraquezas, ao largo de toda a florida existência, deixando, ao morrer, perfume em potência, sementes de muitas outras rosas, é porque ela não perde nem tempo, nem energias, nem qualidades íntimas em discutir, disputar ou guerrear.
Silenciosamente enamorada da própria beleza que constrói como reflexo de uma Lei Geral de Beleza e Vida, ela cresce em cor, em forma e em perfume.
O Iniciado entende assim a liberdade: não deixa que penetrem nele os ódios, os rancores, as intrigas, calúnias, disputas, mexericos, boatos, fofocas, as invejas, que por acaso flutuam ou circulam no ambiente e, como a rosa, se alimenta, no silêncio de sua meditação e de sua ação, somente dos sucos construtivos do conhecimento e dos raios solares do Ideal, transformando em sua vida individual esses elementos, todos construtivos, em um carinho e uma irradiação de união que atrai aos demais, silenciosamente, como as flores atraem as crianças e aos adultos, por sua cor, perfume e simbolismo ativo.
E, para obter essa liberdade, não a pede a ninguém, não critica aos demais em suas maneiras de pensar ou de proceder, porque se deu conta de que seu principal carrasco, vigilante ou carcereiro é sua própria imperfeição, que lhe cria ciúmes, ódios, invejas, intolerâncias etc.
Então, ele trabalha silenciosamente a “liberar-se” e, para isto, nem sequer precisa “cortar” nenhum laço com nada nem com ninguém, pois, se o cortasse, o resto do cordão arrastaria um dos dois: ele mesmo ou a outra pessoa ou peito, conforme o ponto do cordão que tenha sido seccionado.
Sua técnica deve então parecer-se com a da aranha quando vê que um “fio” por ela mesma emitido é inútil a sua obra: ABSORVE-LHE de novo e se coloca assim no local que ocupava antes de emiti-lo. É como se não tivesse acontecido nada.
Assim também, o Iniciado deve Saber ou aprender como “reabsorver” os cordões, laços ou fios de prejuízos, de ódios, de rancores, de inveja, de paixões, de qualquer modalidade de separatividade que ele mesmo havia emitido anteriormente por ignorância ou por falta de elevados sentimentos.
Absorve-lhes e lhes dissolve no silêncio da meditação, no fogo lento do carinho, da fé, da paciência, da tolerância, do desejo de ser melhor e, sobretudo: mais útil.
E assim, pouco a pouco, se faz realmente livre, pois se encontra unido aos demais somente por um novo meio de união, que não cerceia sua liberdade em nenhuma forma: o ar atmosférico, comum a todos os peitos; a luz solar, comum a todos os olhos; o carinho humano, comum a todos os corações; a fé espiritual, comum a todas as almas; o desejo de superação e de união, comum a todos os espíritos, em sua essência.
Passa, então, a ser um pequeno foco de luz, livre em seu movimento, livre em sua irradiação, livre em sua fome de saber e sentir o que vai nas mentes e nos corações de todos os seus semelhantes, mas somente para reforçar suas alegrias e a aliviar e mitigar suas tristezas ou suas dores.
Reflete a luz, ainda que não possa emitir a própria, pois, como toda luz dissolve algo de sombra, como todo pequeno raio de sol dá calor e vida a alguma parte da organicidade visível, assim ele passa silencioso e vivificante como um raiozinho, modesto como ele, silencioso para o ouvido físico, e, contudo, vibrante da mesma força, da mesma energia, da mesma VIDA que o Sol no Físico, que a luz no Moral e que o Divino no Espiritual.
“Em verdade, sem engano e mui verdadeiro”, que se todos, como parentes, amigos, irmãos espirituais, concidadãos ou humanos em geral tratássemos de assemelharmo-nos cada vez mais à maneira de ser e proceder desses Iniciados, nos sentiríamos realmente: livres, felizes, alegres de corpo e de mente e teríamos o prazer reiterado, quase constante e compensador, das inevitáveis dificuldades da existência.
Para consegui-lo, o primeiro passo é lutar internamente, silenciosamente e perseverantemente, por ouvir, ver, pensar e especialmente falar e atuar com calma, com reflexão, com a preocupação constante de criar harmonia, de facilitar o entendimento e de estimular o carinho mútuo entre os seres. Como a repetição cria o hábito, pouco a pouco chegaremos a fazê-lo sem preocuparmo-nos com isto. Será nossa nova modalidade: livres e agradáveis aos demais, como o perfume da flor.