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A VENERÁVEL PERSONALIDADE DO MESTRE PAPUS - Parte I

A VENERÁVEL PERSONALIDADE DO MESTRE PAPUS - Parte I

A VENERÁVEL PERSONALIDADE DO MESTRE PAPUS
Por Jehel, S.I. (forma como assinava na época Sri Sevãnanda Swami)
Em comemoração aos 103 anos do desencarne do Mestre Papus, iniciamos hoje a divulgação de uma série de artigos originalmente publicada pelo 2º Patriarca Expectante, nos tempos do Grupo Independente de Estudos Esotéricos, em Montevidéu.

 

Nos anos finais do século XIX, duas figuras dominam incontestavelmente o panorama iniciático, pela magnitude de seus feitos: Helena Petrovna Blavatsky, animando, com seu sacrifício pessoal e sua sabedoria, toda a difusão da doutrina oriental, e Papus (Gérard Anaclet Vincent Encausse), que fez o mesmo pela difusão da doutrina ocidental. Entre os dois, há mais de um ponto em comum: maravilhosos poderes psíquicos e místicos, uma enorme cultura, uma extraordinária fé nos Mestres e uma inquebrantável VONTADE de SERVIR, que nenhum contratempo, nenhuma ingratidão, nenhuma calúnia, nenhuma incompreensão detiveram ou teriam conseguido deter. Entre eles, um importante ponto de contato: uma enorme, admirável trajetória feita de trabalho social constante, incontáveis viagens, de magnetismo verbal e ativo, além de uma produção literária e didática assombrosa. E, há, ainda, entre eles, outro laço comum: a admiração pelo Mestre Eliphas Levi, que os precedera na compreensão e realização da união da doutrina mística oriental com a mística gnóstica e cabalística do ocidente.

E, não obstante tudo o que foi dito e mesmo considerando outras qualidades mais desconhecidas do público e até de muitos pesquisadores, não se pode afirmar que tenham sido mais elevados em conhecimento ou espiritualidade.  Mas, como realizadores, Papus e a querida Helena Petrovna Blavatsky não tiveram, nessa época, ninguém a quem pudessem ser comparados.

É necessário que todos os nossos irmãos martinistas conheçam bem o Mestre Papus, razão pela qual vou dedicar uma série de artigos que permitam trazer à luz o valor de sua obra e os conceitos fundamentais deste grande iniciador.

Vejamos, em primeiro lugar, o homem: Nasceu em La Coruña, Espanha, em 13 de julho de 1865, sob a ascendência do signo de Escorpião. Era filho de um químico francês e de uma dona de casa nascida em Valladolid. Aos 4 anos, mudou-se, com seus pais, para Paris, onde frequentou excelentes escolas e depois a Faculdade de Medicina. Ali, os estudos já bastante conhecidos do Dr. Luys, sobre hipnose e as projeções psíquicas que originam as enfermidades, chamaram fortemente sua atenção. Em 1883, aos 18 anos, teve seu primeiro contato com seu iniciador Henri Delaage, e passou a usar o nome simbólico de Papus, tirado da obra El Nuctemerón, de Apolônio de Tyana, e que o tornou muito conhecido.

Suas dúvidas, no entanto, sempre foram muitas, pois sua mentalidade, sempre muito analítica e lógica, o impedia de aceitar o que não fosse rigorosamente lógico e possível de demonstrar na prática.

Mas, pouco tempo depois, teria cerca de 19 anos, acontece um fato decisivo. Papus tinha toda a impaciência do Escorpião e inabaláveis conceitos de honra. A crença no direito de eliminar seres considerados nocivos o fez esperar, no Cabaret Filosófico Chat Noir, por um elemento que o caluniara de forma infame. Papus o aguardava, revólver na mão, decidido a matá-lo. Seu inimigo se aproxima.  Papus o vê chegar, sob a pálida luz da lua, e se prepara para atirar. Nisso, alguém lhe toca o ombro. Ele olha, para saber quem é o inoportuno e fica pasmado ao ver um ser luminoso, que o faz baixar o braço, dizendo: O que vais fazer? Não é tua missão cometer tal violência. Não deves deixar-te levar pelo ressentimento. Cristo foi coberto por ofensas semelhantes e, sem pestanejar, não apenas perdoou a seus detratores, como também orou por eles.

Papus se inclinou, meditando. E quando ergueu novamente a cabeça, a luminosa visão havia desaparecido. Mas ele jamais esqueceria este seu primeiro contato com o INVISÍVEL. Seu caminho até a alta iniciação estava aberto. Encontra, efetivamente, pouco tempo depois, o Marquês Saint-Yves-d’Alveydre, seu mestre intelectual, como sempre o chamou, posteriormente, e assim recebeu a plena Compreensão.

Resolveu, então, verificar “in loco” a verdade das velhas tradições e embarcou para o Oriente. Saindo pela Índia como um ocultista desejoso de comprovações, voltou como um convertido definitivo à Elevada Prática do Serviço.

Em 1887, com Augustin Chaboseau e outros, reorganiza o Martinismo, ou seja, a Ordem Martinista, da qual seu primeiro iniciador, Henri Delaage era um dos iniciadores conservadores.

Já nessa época, sua atividade é extraordinária. Desde 1887 até sua morte, em 1916, ou seja, em apenas 29 anos, realiza, em síntese, o seguinte:

Solteiro, primeiro, e casado, mais tarde, gasta quase tudo o que ganha em viagens, em editar livros, em financiar a organização das Ordens e em ajudar os necessitados. Leva, simultaneamente, a vida de médico chefe de vários hospitais, a de Grão-Mestre de alguns ritos maçônicos, de presidente da Ordem Martinista, de delegado geral e mais tarde presidente da Ordem Cabalística da Rosa+Cruz, além de viajar, anualmente, à Rússia, Alemanha, Suíça, Itália, Espanha e outros países. Cuida de seus iniciados e de toda a organização externa das Ordens. Sem descuidar de nada disso, escreve, entre 1884 e 1916, um total de mais de 100 obras, livros, folhetos, opúsculos, entre os quais, várias obras de grandes formatos e volume. Mas o mais extraordinário é o seguinte: para cada obra, faz a revisão pessoal de todo o conteúdo, não retrocede diante de qualquer dificuldade – aprende idiomas, faz experiências de laboratório, de evocações mágicas e, enfim, minuciosas pesquisas documentais.

Honesto, como Eliphas Levi, não afirma nada que não possa ser provado por documentação original ou que não tenha sido verificado por sua experiência pessoal.

De uma resistência física admirável, seu olhar marcante indica excepcional capacidade de concentração de pensamento e de poder magnético. Seu dinamismo físico e anímico são gastos por ele sem reservas, sem medida, e o INVISÍVEL responde ao extraordinário esforço de Papus. Os mestres encarnados ou do INVISÍVEL acodem sempre à sua chamada. Tudo acaba chegando às suas mãos: antigos arquivos de todas as ordens, documentos raros, todo o acervo secreto de Eliphas Levi, incluindo a espada e os rituais pessoais do Grande Mago, tudo é levado a Papus pelos meios e circunstâncias as mais curiosas, para que realize aquilo que seu sacrifício voluntário de cada dia, cada hora, cada minuto, torna necessariamente possível.

Os colaboradores mais dedicados, os amigos mais fiéis, os valores intelectuais de um Barlet, ou místicos de um Sédir, entre muitos outros, auxiliam o trabalho do Grande Divulgador, que recebeu, merecidamente, o apelido de “Balzac do Ocultismo”.

Seu mestre espiritual, AMO (o Mestre Phillippe, de Lyon), o protege, o guia e lhe entrega a Chave do Mundo Espiritual. E as forças do mundo espiritual se associam de tal forma à ação de Papus, que o veremos afirmar como algo muito natural e que realmente aconteceu que, enquanto vivesse, deteria a revolução russa.

Curava os enfermos, irradiando com profusão seu magnetismo pessoal e apelando à ajuda das forças espirituais. Para ele, a figura central de toda Iniciação Ocidental é Cristo e o vemos tomar o caminho claramente Rosa+Cruz pela cristificação de sua doutrina pessoal.

Não foge do mundo, nem recusa, nunca, nenhum tipo de ajuda à coletividade. Quando explode a guerra, em 1914, veste seu uniforme de oficial médico de primeira classe e vai à frente de batalha para ajudar a cuidar dos enfermos e aliviar a morte daqueles que já não é mais possível salvar. É quando milhares lhe devem um desligamento mais fácil, uma iluminação na hora da morte, coisa que os livros não dizem, mas que está escrita do outro lado.

O exagero de oferecer toda a sua vitalidade e recusar qualquer descanso acaba por esgotar seu organismo e, em uma breve licença da guerra para viajar a Paris, ao chegar ao Hospital de Caridade, onde começou sua carreira de médico, para visitar seu amigo, o professor Sergent, acaba caindo sobre uma escada, fulminado pelos efeitos de uma tuberculose que adquiriu na frente de batalha.

Os iniciados entenderam: aquele peito se havia doado demais, havia tatuado em si mesmo o I.N.R.I. Havia se queimado em vida, em holocausto, pela saúde das outras pessoas, conforme o aforismo de Eliphas Levi: A MORTE VOLUNTÁRIA POR ABNEGAÇÃO NÃO É UM SUICÍDIO. É A APOTEOSE DA BENEVOLÊNCIA, DA VONTADE, DO LIVRE ARBÍTRIO.

Uma admirável interpretação do símbolo Rosa+Cruz do pelicano, que rasga o próprio peito para alimentar seus filhotes, quando há escassez de comida. Papus, portanto, já esperava essa morte, tanto que, dias antes, respondeu a uma boa mulher que tentava marcar uma nova consulta para “a semana que vem”: “sim, mas terei de recebê-la no astral”.

E, efetivamente, em 25 de outubro partia para as regiões luminosas, de onde continua dirigindo as cadeias invisíveis das ordens que mobilizou com sua vida e sua morte.

Nos artigos seguintes, veremos com mais detalhes sua vida e suas ações. Concluo este com as palavras que seu grande amigo, discípulo e colaborador, o místico Sédir, pronunciou sobre a tumba de Papus, no Cemitério Père-Lachaise, em Paris: “Talvez eu traia, aqui, a discrição de uma amizade que me honra infinitamente. Mas acho justo que, chegada ao fim uma jornada tão fecunda, se diga em voz alta o que certamente muito já foi murmurado em sinceros agradecimentos. O erudito, o filósofo de esplêndidas intuições, o divulgador poderoso, o conferencista celebrado, o vidente, o terapeuta hábil, todos esses aspectos admiráveis se reuniam na pessoa deste homem de bem, cujos despojos, desde já veneráveis, confiamos hoje à nossa Mãe Terra. Imitemos este iniciador, que não quis ser mais do que um amigo para todos nós e que teve força suficiente para ocultar suas dores e misérias sob um sereno sorriso. Sequemos nossas lágrimas, elas não impediriam as sombras. E nos regozijemos, como ele mesmo se regozija há três dias, por poder contemplar, diretamente, o Todo Poderoso Terapeuta, o Pastor das Almas, o Amigo Eterno e muito amado, de quem sempre foi fiel servidor.”

Prestemos a Papus a única homenagem que pode aceitar: servir, da forma que nos ensinou a fazê-lo, por seus ensinamentos, e, especialmente, por sua vida e por sua morte.

QUE AS ROSAS FLORESÇAM SOBRE TUA CRUZ, MESTRE E AMIGO PAPUS. AMÉM.

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