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OS MESTRES INCÓGNITOS

OS MESTRES  INCÓGNITOS

(Por Adriano Soares, Noviço Expectante, a partir de diálogos e meditações)

A literatura e o imaginário espiritualista são vastos em referências sobre a figura de um ou mais seres que outrora foram humanos, que se elevaram a condições divinas, e assumiram as funções de instrutores ou irmãos maiores da humanidade, também vistos como iniciados, mestres, e até, em alguns casos, como semideuses.

Encontraremos, na mística simbólica das religiões, sociedades iniciáticas e confrarias, associações com figuras como Hércules, Teseu, Enoch, Hermes Trismegistus, Elias o Artista, Christian Rosenkreuz, Melquisedec, Hiram Abif, Salomão, Hilel, Apolônio de Thiana, Jesus, São Francisco de Assis, e até mesmo os “supostos” mestres Ascensos da chamada Fraternidade Branca, denominada por Blavatsky (que anos depois virou base para uma gama de grupos se utilizarem desses como mestres simbólicos) e que por sua vez são análogos (para não dizer que são plágio) ao que é visto nas figuras e literaturas sobre o(s) Bodhisattva (em sânscrito: बà¥?धिसतà¥Âà¤¤à¥Âà¤µ bodhisattva), sendo esse um ser (sattva) iluminado (bodhi), pessoa que, movida por grande compaixão, gerou o desejo verdadeiro de atingir o mesmo status de Buda para o benefício de todos.

Nos manifestos rosa-cruzes do século XVII, leremos a respeito dos irmãos maiores do colegiado da Rosa e da Cruz, e seu pai fundador Christian Rosenkreuz (corruptela para identificar a personagem como Cristão Rosa+Cruz), que, por sua vez, segundo seu primeiro manifesto (Fama Fraternitatis Rosae Crucis, 1614), aderiram ao termo Rosacruz devido a sua ocidentalização, já que, atendendo ao plano de dar continuidade ao colegiado, assim o fizeram, surgindo como herdeiros de uma tradição mais antiga, que remontava a uma organização universal. Esses irmãos foram alhures citados como hierofantes e mentores das organizações de base filosóficas Rosacrucianas que surgiram com o passar dos tempos, algumas atuantes até os dias de hoje, vide a continuidade dessa ideia na The Rosicrucian Fellowship, fundada pelo alemão Max Heindel em 1909/11 (que cita seus instrutores como os Irmãos Maiores da Rosacruz), na AMORC (Antiga e Mística Ordem Rosa Cruz, que tem por hierofante o mestre ascenso Kut-Hu-Mi), e até mesmo na Hermetic Order of Golden Dawn, que, ao ser estruturada tendo como base um suposto manuscrito entregue ao maçom e legista William Wynn Westcott (pelo reverendo e maçon A. F. A. Woodfor), documento esse que provia ao seu intérprete acesso a uma Soror Desconhecida (misteriosa) que atendia pela alcunha de Anna Sprengel, que muitos interpretaram como sigla da expressão “Sapiens Dominabitur Astris” cuja tradução do grego seria "O Sábio Domina os Astros”, uma iniciada de alto grau possivelmente relacionada a uma linhagem Rosacruz, a Gold-und Rosenkreutz (Rosacruz Alemã).

Não muito diferente, outras organizações tinham em seus sistemas a ideia de que eram regidas por um ou mais mestres (patronos), esses sendo visíveis ou invisíveis. Encontraremos tais semelhanças nos mestres que instruíram Martinez de Pasqually na estruturação da Ordem dos Cavaleiros Maçons Elus Cohen do Universo, e na figura de "La Chose", o Agente Desconhecido. Anos depois, com a estruturação da organização que prega o Ideal Teúrgico do Coração, alcunhada como Ordem Martinista, encontraremos citações sobre os S. I. (Superiores Incógnitos), e sua cadeia dos Mestres do Passado. Vale também citar a “Comunhão dos Santos” referendada pelas Igrejas Cristãs (Católicas, Ortodoxas, e Gnósticas).

Na tradição cabalística do povo hebreu, há menção a esses seres iluminados que trabalham em prol de toda a humanidade. São chamados de os “Tzadikim”, ou os justos. E que, segundo a tradição, são em número de 36 (possivelmente 36 famílias, escolas, vertentes, ou linhagens). Alguns alegam que para se compreender esse quantitativo expressado pela Torá (e outras obras da tradição cabalista) tais pontos devem ser analisados sob a égide da gematria (método hermenêutico de análise das palavras contidas na Torá, atribuindo um valor numérico definido a cada letra, e que muitas vezes é visto vulgarmente como sendo a numerologia judaica). Os Tzadikim, ou os justos, são expressados da seguinte forma, “Lamed Vav Tzadikim”, que, por sua vez, na gematria, Lamed se expressa no numeral 30, já Vav é numeral 6. Sendo que 36, na via judaico hassídica, significava vida dupla, e a palavra “Vida” é por gematria descrita com o numeral 18 (Chai), que duplamente gera 36. Tzadikim é dito que se trata do plural da palavra "justo". Desta forma, esses Justus nas próprias escrituras são também referendados como os Tzadikim Nistarim. Nistarim seria expressão para “anônimos” ou “ocultos”. Então, se encontra claramente, nos escritos hebraicos, a expressão ideia do termo “Santos Anônimos”, ou “Santos Incógnitos”.

É dito que esses mestres estão hierarquicamente em uma escala próxima aos anjos, um pouco abaixo (não considerar a expressão abaixo em sua forma literal), interpretação bastante interessante, por se tratar de "36 = Lamed Vav Tzadikim", sendo que trinta e seis é a metade de 72, e sendo que, segundo a cabala e seus estudiosos, Deus é representado pela letra Yod, que é a décima letra do alfabeto hebraico (Yod=10). Se juntarmos ao 10, as grandezas 15, 21, 26, que são, pela numerologia, os valores dos grupos de letras da palavra Jehovah (Yod+He+Vav+He), teremos como resultado 72 (10 + 15 + 21 + 26 = 72).

Por sua vez, algumas correntes judaicas não pronunciam o nome de Deus. Dessa forma, cabalistas desdobraram a expressão/palavra Yod He Vav He através dos três versículos misteriosos do capítulo 14 do Êxodos e acrescentaram os nomes divinos IAH, EL, AEL, IEL. Com esses desdobramentos e terminações, deram nome a 72 anjos, ou atributos da potencialidade divina atuantes. Esses atributos (anjos) supostamente têm influência em cinco datas do nosso calendário, porque por ordem divina, cinco letras hebraicas se juntaram a cada anjo, portanto 72 x 5 = 360, ou seja, encontraremos o número 36 elevado a 10 que é a expressão numeral da "Etz Chaim", a árvore da vida que contém em si suas 10 Sephiroth, que são componentes de um conjunto de 5 Olamoth (Olam Ha Adam Kadmon, Olam Ha Atsiluth, Olam Ha Beriyah, Olam Ha Yetsirah, Olam Ha Asiyah). Eis exposto um resumo das hierarquias celestes e do colegiado da Luz.

Esses mestres incógnitos, com o consentimento da divindade, vez em quando são revelados à humanidade. Alguns são reconhecidos também após sua passagem para os planos superiores. Na tradição judaica, falam de Baal Shem Tov. Na Igreja Católica, temos São Francisco de Assis. No ocidente e oriente, Sri Ramakrishna. Já na tradição da espiritualidade esotérica ocidental encontraremos o Muito Excelso e Amável Mestre Philippe, de Lyon. 
Todos esses representantes da Divindade na Terra e nos planos superiores. Servidores Incógnitos!

SUB UMBRA ALARUM TUARUM JESU

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