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A Fé

A Fé

(No 2º Volume da coleção "O Mestre Philippe, de Lyon", lançado no início da segunda metade do século XX, o 2º Patriarca Expectante, Sri Sevãnanda Swami, escreveu sobre o autor da instrução abaixo: "O Ábade Constant, mais conhecido como Eliphas Levi, constituía, juntamente com Wronski e Louis Lucas, a tríade à qual se religam quase todos os ocultistas contemporâneos". E destacou que Wronski e Louis Lucas tinham buscado no Ocultismo vias de adaptação, e que só Levi dedicou-se ao ensinamento metodizado e à história do Ocultismo.)
 

Certo dia uma mulher apareceu em uma praça de Alexandria. Em uma mão portava uma tocha acesa e na outra uma vasilha com água. "Com esta tocha", exclamou, "quero incendiar o céu; com esta água quero extinguir o inferno para dissipar todos os fantasmas que ocultam meu Deus e não crer mais do que Nele só".

Nós não podemos compreender Deus. Podemos apenas saber o que dizemos quando sussurramos Seu nome; porém, sentimos em nós uma necessidade imperiosa, invencível, absoluta de crer e de amá-Lo.

Pode-se amar seriamente, pode-se amar por muito tempo aquilo que não existe? Pois bem, o amor de Deus é o único que dura tanto como a vida e que se sente bastante poderoso e bastante crente para acreditar na vida eterna!

Oh, sim! Ele é muito mais do que somos nós, porque O amamos mais que a vida. É melhor que todas as bondades humanas, porque O amamos mais que a nossos pais e a nossas mães. É mais belo que todas as belezas mortais porque O amamos mais que a nossas mulheres e a nossas filhas.

Nossas almas têm fome da divindade, têm sede do infinito e sentimos nossos corações crescerem até a imensidão no sonho do sacrifício eterno.

Tudo é de Seu ser, tudo vive da Sua vida. Tudo irradia da Sua luz; tudo ri e canta da Sua alegria. Ele está em nós, está ao redor de nós, nos toca, nos fala, chora em nossas lágrimas, fortifica-nos em nossa dor; esquece-se dos nossos erros e lembra-se dos nossos bons desejos; tudo o que se ama de belo, tudo o que se deseja de bem, tudo o que se admira de grande, tudo o que se exalta de sublime, é Ele, é Ele, é Ele. Ele está em tudo; todo inteiro em toda parte sem que possa ser dividido ou contido. Não é nada do que podemos ver, tocar, mostrar, medir, definir. É tudo o que podemos desejar, admirar, venerar, amar. Ele não é o ser, é o princípio do ser; não é a vida, é o pai da vida; é mais verdadeiro que a verdade, mais imenso que a imensidade, melhor que a bondade, mais belo que a beleza. Toda substância vem Dele, porém, Ele mesmo não tem substância. Nele tudo é lei sem ser constrição, tudo é liberdade sem antinomia e sem antagonismo; Sua vontade é imutável e não está acorrentada, pode tudo o que quer e não pode querer se não o bem na afirmação eterna do verdadeiro, do belo, do bem e do justo. É a inalterável serenidade de um sol sem declinação. Jamais interrompe o curso das Suas leis, não opera sobre o homem se não pela natureza, não se irrita nem se acalma e nós não lhe rogamos para aprender e para nos exercitarmos em desejar o bem!

Que se pode dizer quando tentamos falar Dele, se não incoerências e absurdos? Não é Ele o infinito indivisível, o todo sem partes, o existente sem substância?... Dogmas humanos, palavras de delírio, sejam esquecidas! Deus seria finito se pudesse ser definido; não falemos mais Dele, vivamos para sempre em Seu amor! Símbolos, imagens, alegorias, lendas, são os sonhos da Sua sombra... o amor é a realidade da Sua luz.

Amemos a verdade, amemos a razão, amemos a justiça e amaremos a Deus e Lhe renderemos o verdadeiro culto que pede! Amemos tudo o que foi criado, tudo o que anima, tudo o que ama e O sentiremos viver em nós!

Comunguemos com Ele, comunguemos uns com os outros, comunguemos! Eis aqui a última palavra da fé universal! Comunhões, digo; e não mais excomunhões!

Aquele que excomunga, se excomunga. Aquele que maldiz, se maldiz. O que reprova, se reprova. A condenação só é condenada.
"Nós temos o Alcorão", dizem os partidários do Islamismo; "Para que serve o Alcorão", dizem os cristãos, "se temos o Evangelho?". "Para que o Evangelho", dizem os hebreus: "nós temos o Sepher Torah". E eu digo: para que o Sepher Torah se temos a Deus? Porém, estes livros sagrados são como os véus de diferentes cores que estavam superpostos sobre o Tabernáculo. Viva Deus no Alcorão! Viva Deus no Evangelho! Viva Deus no Sepher Torah! Porém, por cima de tudo, vive Deus no coração dos justos! Viva Deus na justiça e na caridade! Viva Deus na solidariedade e na fraternidade universal!

Amar a Deus é ver a Deus. Deus não é visível se não pelo amor, e este amor é a recompensa dos corações puros. Sente-O eterno, sente-O infinito. Não se define nada, não se procura nada, não se duvida de nada, não se teme nada, não se deseja nada se O ama!

A aquiescência perfeita da lei, a calma inalterável na contemplação do que é, a esperança desinteressada do que deve ser, a certeza do bem e o repouso no absoluto, eis aí o Nirvana de Shakyamuni, tão mal interpretado pelos que querem ver nele o aniquilamento da iniciativa Humana; eis aí a perfeição do homem.

O amor divino é o pai dos verdadeiros milagres; ele transforma a natureza, dá à dor uma atração maior que a do prazer; sobe e cresce sobre os obstáculos; cria um mundo fechado à ciência e à filosofia; é o esplendor através do véu; é a realidade que os invade de repente e que os fixa numa convicção mais inquebrantável que todas as certezas humanas.

Sem o amor divino não se pode amar aos homens: os homens sem pai não têm irmãos. O homem é um monstro para o homem sem Deus.

A eternidade bem-aventurada começa com o amor divino; estamos na glória, estamos no céu, moramos no infinito!

Que me cubra com púrpura de Salomão, com as úlceras de Jó, eu direi: "Te amo". Se me diz: "Te expulso da minha presença", responderei: "Te amo e tua presença me seguirá". Se me diz: "Te reprovo", responderei: "Te escolho", e se quer me torturar, meu amor tomará asas para se elevar mais alto que as nuvens, e caminhará sobre a tempestade.

É que eu não creio no Deus dos homens, eu creio no Deus de Deus mesmo!... Eu creio neste amor sobrenatural que é a onipotência de Deus vivo para sempre em meu coração.

Bendirei nas cidades e nos campos, nos desertos e sobre os mares! Rogar-Lhe-ei nas Igrejas, ao ruído misterioso dos órgãos, proclamá-Lo-ei nas sinagogas, aos esplendores do buccin, prosternar-me-ei ante Ele nas mesquitas, ao chamado monótono do muezzin... Porém, melhor que tudo isto e, seguindo a palavra do grande mestre, retirar-me-ei a meu quarto e rogar-Lhe-ei em meu coração!

Retirar-me-ei na solidão, porém, não ficarei fechado nela. Está por acaso Deus comigo só? Não está vivente na natureza inteira? Não se expande a Sua beleza nas flores, nas crianças e nas mulheres? Não se sente no meio das debilidades e das agitações dos homens a força que os domina e que os conduz? Não fugirei, pois, dos homens porque suas vaidades me enojam: seria egoísta e enganar-me-ia se dissesse que amo a Deus.

Amarei a Teus filhos, ó, meu pai! Sobretudo quando estiverem doentes e parecerem abandonados por Ti; porque então pensarei que os confias a mim. Chorarei com os que choram, rirei com os que riem, cantarei com os que cantam. As carícias de uma criança far-me-ão estremecer de alegria e a lembrança de uma mulher me fará sonhar em Teu amor.

Porque não há nem malditos nem bastardos na Tua família. Criaste tudo em Tua sabedoria e conduziste tudo ao bem pela Tua bondade. Todo amor vem de Ti e volta a Ti. A mulher é a medianeira da Tua graça; e o vinho, que revigora o coração do homem, o auxiliar do Teu espírito. Longe de mim os que Te caluniam e dão Teu nome a execráveis imagens. Que se esqueça para sempre esse pesadelo da antiga barbárie, esse verdugo das Suas criaturas a quem acumula em uma imensa podridão onde conserva-as vivas salvando-as com fogo! Que se despreze para sempre a esse amo caprichoso como a uma cortesã romana que escolhe a uns e rejeita a outros, que se irrita definitivamente por um esquecimento, que sacrifica para si a seu próprio filho em favor daqueles contra quem não lhe apraz irritar-se, tornando-se cada vez mais implacável para com todos os demais! Velhos ídolos, velhos erros, nuvens disformes da noite, das antigas idades, o sol se levanta, seus raios atravessam de todos os lados, como flechas de ouro. Retira-os para a noite, nuvem de inverno, a primavera sopra, dissipa-os, passai, passai!

O homem não é, não foi nunca e jamais será infalível, quaisquer que sejam as suas pretensões e suas dignidades sacerdotais. Não há outra infalibilidade que o amor supremo unido a absoluta razão.

A razão sem amor carece de exatidão na ordem moral, porque carece de justiça. O amor sem razão conduz fatalmente à loucura. Tenhamos, pois, fé no amor inseparável da razão.

Com esta fé, se sabeis, se quereis, se ousais e se tens a arte de calar-vos, sereis mais forte que o mundo; e o céu e a terra cumprirão vossas vontades. Fareis, seguindo a promessa de Cristo, todos os milagres que Ele fez e até maiores ainda. O Mal desaparecerá ante vós e a dor será trocada por consolações divinas. Sentireis em vós a vida eterna e não temereis mais a morte. Nada vos faltará e não tereis mais decepções na vida. Os que queiram prejudicar-vos, danar-se-ão a si mesmos e vos farão o bem. Tereis a riqueza como auxiliar, a pobreza por salvaguarda e por amiga; porém, a horrorosa miséria não vos acercar-se-á jamais. Os espíritos do céu vos acompanharão e vos servirão. A Providência cumprirá e proverá todos os vossos desejos. Vosso alento purificará o ar, vossa palavra espargirá a alegria nas almas; vosso contato devolverá a saúde aos doentes; se cairdes não vos ferireis e se querem fazer-vos mal, este retornará sobre quem o tenha querido.

 
 
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